MINHA TERAPIA

terça-feira, 3 de abril de 2012

Casamento, uma nova etapa...


Casamento, uma nova etapa...


É comum a nós, seres humanos, qualificar e classificar os momentos, decisões e eventos, ao longo de nossas vidas, de acordo com o peso que essas situações têm na construção da nossa história. Com o casamento não seria diferente! Uma referência muito comum direcionada a este momento é a classificação do casamento como uma nova etapa.

Esta ideia de nova etapa se estabeleceu, possivelmente, porque esta escolha, entre tantas outras que fazem parte da nossa existência, seria uma das decisões que mais define nossas projeções futuras, constituindo-se como um marco significativo no direcionamento da nossa história. Temos aí também a profissão, e algumas outras escolhas, como fé e religião, que marcam o rumo de nossas vidas tanto quanto o casamento. Sim, até é viável dizer que é uma nova etapa, mas esta nova etapa estará sob direção daqueles mesmos dois diferentes indivíduos que, apesar de anteriormente vinculados, eram responsáveis por suas fases particulares de vida. O casamento marcaria então o início de uma única e comum etapa para duas pessoas singulares e diferentes. 

Apesar das semelhanças, somos sim pessoas diferentes, e, tais diferenças acabam falando alto quando duas pessoas se encontram em uma mesma etapa, o que constitui um ponto muito relevante na construção de algo em comum. As diferenças individuais são aquela combinação de características que fazem do ser humano único em sua expressão. Diferenças de sentimentos e ações, de pensamentos e organizações, de sonhos e inclinações, de interesses e hobbys, enfim, diferenças importantes para fazer o mundo realmente evoluir, cada um contribuindo à sua maneira. No entanto, este caráter positivo pode ser comprometido quando inserido no contexto de uma sociedade globalizada voltada para o imediatismo, a concorrência e o individualismo.

A globalização traz a ideia de diminuição de fronteiras, onde os limites humanos para o alcance do mundo estariam minimizados. Tal amplitude de campo de atuação, visibilidade, experimentação e estabelecimentos de relações humanas, têm seus benefícios no desenvolvimento, porém entra em choque, muitas vezes, com as limitações de recursos que o homem possui: intelectuais, físicas e psicológicas. Cria-se então uma sociedade voltada para a abrangência, o que impõe ao homem um ritmo imediatista para acompanhá-la, diante do que este indivíduo precisa se fortalecer em si mesmo para poder concorrer com os demais pelo seu próprio espaço. Isto sem contar que, em vários aspectos, mas principalmente diante da subjetividade, tal abrangência pode causar grandes impactos nas escolhas e direcionamentos de vida, acabando por concorrer com o foco e favorecendo que decisões sejam mais facilmente questionadas ou mesmo alteradas.

Fica então uma rede complicada de entender. Como ser imediato em dois ritmos diferentes?! É possível olhar para o outro se preciso cuidar de minha individualidade e fortalecer o que sou?! Será que se eu abrir espaço o outro vai ocupar o lugar que era para ser meu?! Parece-nos difícil duas pessoas com configurações tão individuais andarem juntas na construção de uma nova etapa.

Porém o homem existe e se realiza frente a vínculos afetivos. Pesquisas recentes demonstram que o estabelecimento de laços afetivos fortes e duradouros está muito além da realização profissional, da beleza ou mesmo da saúde física, quando o quesito é felicidade. Já dizia Kierkegaard, filósofo dinamarquês, em seu livro As Obras do Amor, “mesmo a pessoa mais carente que já viveu, se teve amor, quão rica não terá sido a sua vida em comparação com a daquele, que é o único miserável – aquele que foi vivendo a vida e jamais sentiu carência de nada”.

Encontramos nesta citação, um conceito que ainda não tinha sido colocado neste pensamento, que é o amor. Falar sobre o amor não é uma tarefa fácil, mas podemos pensar que, considerando este como um sentimento, possivelmente não se submeta assim ao tempo, e não ceda então ao caráter imediatista atual. Fica também em destaque que o amor precisa do outro para existir, o individualismo então acaba não podendo ser o ponto forte de uma pessoa quando se ama. E para que este amor seja vivido, a reciprocidade faz de dois concorrentes, cúmplices, somando forças para encontrar um espaço para os dois.

Na grande verdade, independentemente de tanta concordância e discordância sobre o que viria a ser o amor, é bem provável que este seja o principal, ou, até mesmo, o único possibilitador deste processo. O único que abre espaço entre o imediatismo, o individualismo e a concorrência e faz com que os vínculos sejam profundamente firmados. Se o amor for priorizado, ele pode sim fazer das diferenças entre duas pessoas um ponto forte na construção de uma única e bem-sucedida etapa de suas vidas. 

Giselle Pianowski
Psicóloga